quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ato contra a morte de Nilton César de Jesus

(peço a todos que divulguem massivamente este chamado)

Domingo último, dia 07/12, deveria ter sido um dia de festa: um clube brasileiro pela primeira vez se tornava tricampeão nacional de forma consecutiva.

Mas o que deveria ser amplamente comemorado como o sucesso de uma nova fórmula de campeonato no Brasil acabou se transformando na repetição de algo que o país se "acostumou" a assistir desde há muito, algo que rememora os anos de chumbo da ditadura: o assassinato de um torcedor já rendido por um policial que, ao tentar abusar do poder pela sociedade nele investido com uma coronhada absolutamente desnecessária, atirou contra a cabeça da vítima.

O caso, como tantos outros, foi notícia por todos o país. Serviu, como sempre, pra chocar de uma forma paralisante. Quatro dias depois, Nilton César de Jesus, 26 anos, o torcedor baleado, faleceu no hospital no Distrito Federal, enquanto José Luiz Carvalho Barreto, o policial autor do disparo, recebeu o bônus do habeas corpus ao ser enquadrado por "lesão corporal grave".

Qualquer um que viu o vídeo do tiro pode perceber que a imprudência do policial claramente qualificaria seu ato como "homicídio culposo", ato sem a intenção de matar, mas que acabou matando. Mas a força política da corporação policial é grande, e o assassino está - e muito provavelmente continuará por longo tempo - solto.

O caso, infelizmente, não é único. No mesmo dia, outro torcedor foi morto a tiros na zona leste de São Paulo durante as comemorações do título. E tantos outros já morreram em tantos jogos pela história de nosso futebol.

A violência, entretanto, não é exclusiva do esporte, está em todo lado. Violência que começa quando a relação social mais comum entre duas pessoas é a de comando, de hierarquia, de força, algo que se transforma em risco de morte quando entram em ação armas de fogo.

No futebol, onde a aglomeração de pessoas por partida é enorme, tal violência se instaura com ainda mais facilidade quando se assiste uma elitização e uma militarização crescentes de tudo que envolve o jogo: torcida impedida de levar faixas, preços de alimentos e horários de jogos absurdos, polícia que humilha e trata o torcedor enquanto bandido. E que entra em campo e leva jogador preso, como se viu no Recife por mais de uma vez em 2008, e que atira em torcedor desarmado e já rendido, como Nilton. Isso sem falar que o comandante da arbitragem paulista é um coronel da polícia.

Na Itália, a morte do torcedor da Lazio Gabrielle Sandri, em episódio bastante parecido com este de Brasília, causou revolta nos torcedores de todas as equipes do calcio, inclusive da rival Roma. Jogos foram paralisados e adiados ante a ameaça de invasão do gramado por parte das torcidas, em ação de protesto pelo assassinato sem sentido. O caso levou tanto o poder público quanto a federação de futebol de lá a ao menos parar para repensar as relações de força.

Aqui, no país pentacampeão do mundo, já tivemos, enquanto torcedores, inúmeras possibilidades de agir da mesma forma, e as desperdiçamos. Pensando nisso é que o Autônomos FC, equipe amadora de futebol de várzea, convoca os torcedores de todas as equipes a comparecerem com suas respectivas camisas a um ato em repúdio à violência policial e à militarização do futebol, domingo, 14/12, com concentração saindo da frente do cemitério das Clínicas e partindo para a Praça Charles Miller, onde acontecerá uma partida de futebol espontânea e livre em protesto à tentativa de controle de nossos corpos e mentes nos estádios do país e em memória de Nilton e de todos os torcedores mortos de maneira estúpida pela corporação policial.

Futebol é um lugar de festa. E festa não combina com botas, fuzis e capacetes, nem com proibições arbitrárias como as que perpetram nos estádios paulistas. Vamos mostrar que para além de apaixonados por esta ou aquela equipe, os mesmos que sustentam todo o mercado do negócio futebol, somos torcedores, classe única, que não aceita a morte de um companheiro de boca fechada e braços cruzados.

Em nome de todos os torcedores que querem um futebol mais democrático,

Autônomos FC
http://autonomosfc.blogspot.com

8 comentários:

Anônimo disse...

na boa... uma passeata de torcedores que acaba em futebol na praça não vai servir de nada... tem é que ir pra frente de algum órgão público ligado à segurança nacional/estadual/municipal e realmente demonstrar essa revolta............... ou......... fazer esse jogo dentro do Pacaembu... exigir que ele seja aberto para esse fim "pacífico", e enfrentar a polícia caso não seja...... qual o argumento que eles vão ter contra uma atividade esportiva pacífica?

mandiócrates disse...

Boa idéia, muito boa mesmo.
Mas acho que pra um ato organizado assim em cima da hora não temos estrutura pra tudo isso.
De qualquer forma, conforme for lá a gente pensa nisso.

Anônimo disse...

Saindo do tema um pouco.... Sucesso da nova fórmula??? Muito pelo contrário. O fato de nunca antes, no Brasileirão, se concentrarem tantos títulos nas mãos de um só clube, é a prova de que a formula de mata-mata dá muito mais condições de que os imprevistos acontecam, e o esporte é feito deles. Do jeito que anda não demora pra virar um Milan x Juve x (quem mais mesmo????. Sou muito mais ter 15 grandes.

Anônimo disse...

E digo mais. Para instituir o padrão de disputa europeu (Antonio Candeia Filho já dizia que um povo sem cultura própria jamais será uma nação, e nós insistimos em nos despir cada vez mais de tudo o que vai nos restando de brasileiro), temos que pensar no brasil como um continente. Assim poderiamos pensar em campeonatos regionais em pontos corridos (estes, sim, são mais parecidos com o Milan x Juve), e num brasileirão estilo Champions (torneio que pode se comparar ao Brasileirão em número de grandes equipes). O Brasil não é um país europeu menor que o estado de São Paulo, com menos equipes de peso que a cidade do Rio...

Anônimo disse...

É difícil falar em ato público diante dessa tragédia, porque as autoridades manipulam a população através da mídia.

Juro que já ouvi gente dizendo que o rapaz levou um tiro merecido e que o policial agiu de forma equivocada, mas em exercício da profissão.(?)

Sou corinthiano e sei que também há a divergência em relação ao fato do cara que morreu não torcer para o mesmo clube... as torcidas não têm coragem pra se unir numa hora dessas.

Agora era a hora das organizadas se manifestarem!!! Porque aquele rapaz provavelmente se achava parte de um grupo, o grupo de torcedores do São Paulo(como poderia ser de qualquer outro).

As uniformizadas fazem você acreditar que você é parte dela e nessa hora elas somem.

Até mesmo os clubes poderiam se engajar...

Mas, quem tem esse interesse?

Quando precisam da torcida dizem que o time é a vida, o amor, a paixão e a razão de se viver. E quando alguém morrem, os mesmos voltam as telas pra dizer que o futebol é só esporte e lazer!!!

Anônimo disse...

Otima iniciativa, temos mesmo é que resistir.
Se fosse na Europa haveria protestos por todo o pais e com afastamento e punição rigorosa dos responsaveis no minimo.
A morte de uma pessoa não é aceita com tanta indiferença como aqui.
É a banalização da morte. A midia esta indiferente a tudo isto e cabe a sociedade manifestar-se.
Parabens pela iniciativa.

Paulo

Anônimo disse...

Esse cara estava jogando pedra na polícia, merecia apanhar mesmo. É claro que o disparo fatal foi um trágico acidente, mas nunca teria ocorrido se ele estivesse se comportando como um torcedor decente, que vai para torcer pelo seu time ao invés de xingar e agredir os policiais que estavam lá à trabalho. São atitudes como as dele que fazem com que as torcidas sejam marginalizadas e as famílias evitem estádios. Se a pedre que o amigo dele tacou na polícia no começo do vídeo tivesse matado um policial eu duvido que haveria "passeata de protesto".

Anônimo disse...

Sou favorável a qualquer tipo de manifesto que peça paz nos estádio, mas creio que o manifesto elaborado está profundamente equivocado.

As imagens são definitivas, o policial errou e deve ser punido devidamente. Porém querer culpar única e exclusivamente a policia pela violência nos estádios é um ato de profunda ingenuidade.Hoje em dia nossos estádios são frequentados(em sua minoria) por bandidos-torcedores e a combinação entre o despreparo dos policiais e esse tipo de torcedor sempre termina em tragédia.

Não estou entrando no mérito da morte do Nilton, mas acho que o manifesto seria menos hipócrita(desculpem o termo mas não encontrei outro)se abordassem o tema de maneira menos passional. Pedir o desarmamento da policia sem levar em conta os "bandidos-torcedores" é um completo absurdo.

Façam manifestos contra esse tipo de ação absurda dos policias porém não cometam a atrocidade de apontar a policia como única culpada.Peçam também uma punição exemplar aos "bandidos-torcedores",peçam também mais rigor na justiça contra as organizadas. Não sejam tão parciais a ponto de não enxergarem que o problema da violência não se restringe apenas a polícia.

Para finalizar...a lesão corporal grave só se configurou enquanto o torcedor estava em coma no hospital.Ao falecer o policial será indiciado por homicidio.